O doador no transplante de fígado.

O transplante de fígado em sua maioria é realizado com o doador cadáver, menos comumente com doador vivo.

O transplante diferentemente de outras áreas cirúrgicas depende de uma terceira pessoa para poder ser realizado. Sempre quando pensamos em um doador, devemos considerar que a pessoa doente que receberá o órgão (receptor) deve receber um órgão que seja capaz de ter um funcionamento adequado no período pós-transplante, com o menor número de intercorrências possíveis.

No transplante de fígado, os órgãos utilizados são em sua maioria provenientes de doador cadáver, sendo o doador vivo mais utilizado em transplantes de crianças.

Como funciona a doação de fígado de cadáver.

O doador cadáver é o paciente que está em morte encefálica. Morte encefálica é o termo técnico para quando as funções do cérebro não são mais realizadas, é uma situação irreversível, obstante o fato que o coração do paciente continue batendo, ele está morto.

Esse tipo de doação segue uma rotina e um protocolo nacional, que é seguido rigidamente pela Central de Transplantes e as equipes de captação. Os principais passos são os seguintes:

1) Constatar a morte encefálica e obter autorização da família;
2) Afastar qualquer doença que inviabilize o transplante;
3) Reconhecer a viabilidade do órgão a ser doado;
4) Realizar as provas de compatibilidade;
5) Procurar o receptor mais adequado;
6) Enviar o órgão ao local de cirurgia do receptor.

O processo de avaliação e utilização de um órgão de doador cadáver é complexo e envolve múltiplos fatores. Esse processo tem como objetivo identificar um órgão que seja compatível com as necessidades do paciente que está em lista de espera, maximizando as chances de sucesso.

Categorias de doador cadáver.

Infelizmente a demanda por órgãos para transplante é muito maior do que os órgãos disponíveis. Essa disparidade resulta em mortalidade na lista de espera; quando um paciente que precisa de um transplante morre antes de chegar sua vez de receber o órgão.

A medicina, preocupada com essa disparidade, procura diminuir esse sofrimento expandindo as fronteiras da utilização de órgãos. Didaticamente falando, os órgãos são divididos em duas grandes categorias:

  • Doadores ideais: são os doadores jovens, sem doenças, com pouco tempo de internamento em unidade de terapia intensiva.
  • Doadores com critérios expandidos: doadores de mais idade, ou com outras doenças concomitantes, ou a utilização parcial do fígado, ou com sorologias de doenças infecciosas positivas.

A utilização ou não desses doadores varia conforme a experiência de cada equipe transplantadora. O risco teórico da utilização dos órgãos de critérios expandidos é um aumento das complicações no pós-transplante. O equilíbrio entre o risco e benefício da utilização desses órgãos é dependente da experiência da equipe transplantadora e as atuais condições clínicas do receptor no momento do transplante.

O benefício da utilização dos órgãos de doadores com critérios expandidos é a diminuição do tempo em lista de espera.

A utilização de doadores ideais e de critérios expandidos depende da expressa autorização do paciente.

Como funciona a doação de fígado de vivo.

A doação intervivos envolve um membro da família da pessoa doente que deseja, e possa, doar um pedaço de seu fígado. A doação não é isenta de riscos, porém pode ser uma opção.

Um pedaço do fígado do doador é retirado cirurgicamente e transplantado para o paciente que está necessitando do transplante, chamado receptor. Nosso fígado possui dois lobos, um lobo direito (maior) e um lobo esquerdo (menor), que correspondem a aproximadamente 60% e 40% do volume do órgão, respectivamente. Para que um transplante de fígado com doador vivo seja bem-sucedido, a medicina precisa equilibrar uma importante equação: o tamanho (peso) do fígado que está sendo utilizado precisa ser suficiente para satisfazer as necessidades metabólicas do receptor e o tamanho (peso) do fígado que fica precisa ser suficiente para as necessidades do doador.

Resumindo: quem doa não pode ficar com pouco e quem recebe não pode receber pouco.

A maior parte dos transplantes intervivos de fígado em adultos é realizado quando o lado direito (maior) do fígado do doador é retirado e transplantado no receptor. Em crianças, geralmente o lado esquerdo do fígado (menor) do doador é utilizado no transplante.

Pontos-chave:
• A grande maioria dos transplantes de fígado em adultos é realizado com doador cadáver.
• A utilização de órgãos de critérios expandidos depende da condição clínica do receptor, da autorização do receptor e do melhor julgamento da equipe transplantadora.
• A experiência da equipe ao decidir a utilização de órgãos de critérios expandidos eleva muito a segurança da utilização do órgão, beneficiando o paciente com redução do tempo de espera em lista.

Dr. Fábio Silveira

Médico pela PUCPR (CRM 20009/PR). Residência médica em cirurgia geral pela PUCPR, com área de atuação em cirurgia vídeo-laparoscópica (RQE 192). Título de Especialista em Cirurgia Geral pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões (RQE 13560). Título de Especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (RQE 15509). Atua na área de transplante de fígado, pâncreas e rim. Membro da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), da Sociedade Internacional de Transplante de Fígado (ILTS) e da Sociedade de Transplantação (TTS).

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